Ao pensar em BH, não consigo deixar de pensar em Juscelino Kubitschek, pois essa cidade jardim está intrinsecamente ligada à figura icônica de JK, o prefeito furacão que deixou sua marca indelével na história da cidade, do estado e de todo o país.
Ao deparar-me com a carta que compartilho a seguir, sinto uma profunda conexão com suas palavras, pois assim como JK, também me sinto um analfabeto em uma nação onde os honestos são tratados como ignorantes. É doloroso constatar que em um mundo onde deveríamos enaltecer a integridade, encontramo-nos cercados por desonestidade e desvalorização daqueles que verdadeiramente lutam pelo bem.
No entanto, nas entrelinhas dessa carta, encontro uma mensagem de esperança e resiliência, que ecoa com a força de mil vozes. JK acreditava que essa situação seria passageira, uma tempestade passageira em meio à qual emergiríamos triunfantes. E como mineiros de alma, somos forjados pela luta incessante pela liberdade, pela verdade e por uma justiça genuína.
Ainda que nossos corações possam estar abatidos pela injustiça reinante, mantenhamos a chama da esperança acesa, pois em algum momento, a verdade prevalecerá sobre a mentira, a corrupção será derrotada pela integridade e a justiça verdadeira será restabelecida em nossa amada nação.
Que essas palavras ressoem em cada um de nós, inspirando-nos a não desistir, a não sucumbir às adversidades, mas sim a lutar incansavelmente por um futuro mais justo e equânime. Que BH seja sempre o símbolo de nossa perseverança e que, em nossas ações, possamos honrar o legado de JK, trazendo à tona o melhor que há em cada um de nós.
Com gratidão a JK e com determinação,
Rodrigo Paiva
CARTA DE JK AOS FORMANDOS DE 1965 DA EEUFMG
Meus queridos afilhados:
O ex-Prefeito da vossa cidade. o ex-Governador do vosso Estado, o ex-Presidente da República do vosso País não pode ester presente à festa com que encerrais a vossa passagem pelo curso universitário.
Ventos adversos mudarem o rumo à nau em que velejava a minha vida de político e, mais ainda, simples cidadão da República.
Não sou hoje um homem do meu destino.
Cassaram-me o mandato de senador que o povo goiano me conferiu em urnas livres.
Suspenderam-me por dez anos os direitos polítiсоs.
Igualaram-me, na forma da Constituição, aos que não sabem expressar-se no idioma nacional, puseram-me no mesmo plano dos analfabetos e dos condenados por crime irrecorrível.
Mas a despeito de tudo isso, não se geram mágoas nem ódios no coração do proscrito. A lembrança que guardo de minha pátria é a de anos de trabalho árduo e dedicação cívica, que marcaram a minha atuação em tôdas as regiões do País: – Na implacável região nordestina que procurei recuperar, e está sendo recuperada, através da SUDENE, que eu criei; na rica região do Norte para onde abri caminhos que a civilização vai hoje atravessando; – na região sulina. que fiz ligar ao centro, ao norte e ao oeste para permitir a circulação das riquezas e dos filhos da mesma Pátria; na região centro-sul. onde instalei um parque industrial amplo e complexo, que vem evitando a derrocada do País nestes últimos anos de crises sucessivas; no oeste, incorporado ao patrimônio brasileiro depois das estradas de integração nacional e de Brasília, a irreversível, a cidade da esperança, incompreendida ainda pelos que teimam em considerar o Brasil apenas uma estreita faixa de terra banhada pelo oceano e pelos que julgam que os brasileiros devam continuar arrastando-se pelo litoral, na expressão de um historiador antigo.
O vosso gesto elegendo-me paraninfo expressa que estou ainda no coração da mocidade do meu País, que julga com espírito isento e sobranceiro. E a mocidade é o futuro. A vossa lembrança é um banho lustral para a minha alma atribulada por tantas ingratidões e tantas injustiças.
Também o vosso paraninfo teve. como vós. o grande dia da vitória, vai para quase quarenta anos.
Eu trazia a alma cheia de esperanças, com a justa ambição de vencer, de ser útil à sociedade, de dar a minha contribuição para o soerguimento da Pátria.
Médico, o destino desviou-me da profissão, que eu praticava com a devoção de um sacerdote, para as lides políticas, em que fui ascendendo, degrau por degrau, por exclusiva vontade do povo, de cuja confiança tenho a consciência tranquila de jamais haver desmerecido.
O juízo dos contemporâneos desafetos, sôbre ser suspeito, é transitório. Só é válido o julgamento da História, e êste eu aguardo de fronte erguida. A posteridade, isenta das paixões do momento, há de proferir a palavra final e definitiva sôbre a ação que desenvolvi para dar outra dimensão, interna e externa, a meu Pais.
Vós dais o primeiro passo para a justiça histórica com o desassombro de. no momento em que nada sou e nada vos posso oferecer. prestais uma homenagem ao ex-presidente banido.
O vosso gesto testemunha a vossa grandeza.
E daqui, distante da Pátria, eu vos envio uma palavra de coragem para enfrentardes o futuro, que vos há de proporcionar as maiores venturas. Mas vos envio também uma palavra de profundo agradecimento pela vossa atitude, tão rara nos dias que correm, de altaneria e independência, galardão do nobre povo mineiro.
Meus queridos afilhados, sêde felizes.
Nova York, 11 de dezembro de 1965
Juscelino Kubitschek