Hoje, 3 de maio, saí para mais uma das minhas caminhadas com propósito, explorando as praças de Belo Horizonte — espaços que vão muito além do lazer. São guardiãs de encontros, de memórias silenciosas, de histórias que tecem a alma da cidade. Pelo Instagram, convidei quem me acompanha a participar de um desafio especial: identificar, praça a praça, cada pedaço desse trajeto, uma jornada que revela o que torna nossa capital tão única.
Praça Marília de Dirceu
Iniciei pela Praça Marília de Dirceu. O nome homenageia a célebre obra do poeta Tomás Antônio Gonzaga, que narra seu amor por Maria Doroteia — a real Marília — em versos que atravessaram séculos. Ela o conheceu ainda jovem, em Ouro Preto, mas o romance foi interrompido pela prisão de Gonzaga, acusado de participar da Inconfidência Mineira. Anos mais tarde, seus restos mortais foram reunidos na Casa dos Contos, simbolizando a eternização de um amor que resistiu ao tempo e à distância. Um pedacinho da nossa literatura transformado em praça.

Praça Sete
Segui para a icônica Praça Sete de Setembro, marco central da cidade, batizada em 1922 em homenagem ao centenário da Independência do Brasil. No passado, era conhecida como Praça 14 de Outubro, em referência à data de criação da comissão que planejou nossa capital.
Aproveitei para fazer uma pausa no tradicional Café Nice, onde o café se mistura à memória afetiva dos belo-horizontinos. É animador ver iniciativas que buscam revitalizar esse importante ponto do centro da cidade.

Praça Rui Barbosa
Depois, caminhei até a Praça Rui Barbosa, mais conhecida como Praça da Estação. Em frente à antiga estação ferroviária — hoje o belíssimo Museu de Artes e Ofícios —, a praça foi urbanizada em 1904 com jardins ao estilo inglês.
O nome homenageia o jurista e político Ruy Barbosa, um dos grandes nomes da história republicana brasileira. Ao lado de Prudente de Moraes, foi autor da primeira Constituição da República, além de brilhar na Conferência de Haia, recebendo o título de “Águia de Haia”. Um homem de ideias e ação que deixou sua marca em diversos campos, da diplomacia à literatura.
Por ali, aproveitei para saborear pães e croissants da Baqueteria Francesa.

Praça da Independência
A caminhada prosseguiu pela recém-reinaugurada Praça da Independência, entre os edifícios Sulacap e Sulamérica, na Av. Afonso Pena. A praça, criada na década de 1940, havia sido descaracterizada nos anos 70. Agora, com projeto de revitalização da PBH, ela ressurge com calçamento em estilo português e áreas verdes — um resgate da sua função original como espaço de convivência e contemplação.
Além de ser um ponto de descanso no coração da cidade, a praça proporciona uma vista privilegiada do Viaduto Santa Tereza e valoriza o conjunto arquitetônico tombado Sulacap-Sulamérica, projeto do arquiteto italiano Roberto Capello.
Praça Afonso Arinos
Seguimos nossa caminhada até a Praça Afonso Arinos, antiga Praça da República, parte do traçado original da nova capital mineira. Seu nome atual homenageia o jurista, historiador e acadêmico Affonso Arinos, cuja memória é preservada no monumento central: uma coluna de granito esculpida por Celso Antônio de Menezes, com o retrato do autor de Burity Perdido e a imagem simbólica de um buritiseiro solitário em cada face.
Logo ali, como diz um bom mineiro, a confeitaria Mole Antonielana adoça o trajeto com sabores que nos transportam direto à Itália.

Praça da Liberdade
Nossa caminhada prossegue pela imponente Praça da Liberdade, coração simbólico da cidade. Criada para emoldurar o Palácio da Liberdade, foi concebida como a esplanada do poder republicano. Com palmeiras imperiais, coreto, jardins inspirados no paisagismo francês e prédios históricos, a praça materializa o ideal de uma nova era política e cultural para Minas Gerais.
Hoje, é também um polo cultural, reunindo museus, centros de arte e espaços de convivência. A Praça da Liberdade é mais que uma praça: é um convite a respirar história, a olhar para o passado com respeito e para o presente com curiosidade.
Praça José Mendes Júnior
A Praça José Mendes Júnior é uma homenagem ao engenheiro, empresário e desportista fundador do Minas Tênis Clube e da construtora Mendes Júnior. O homenageado foi reconhecido em 1969 como Engenheiro do Ano pelas principais instituições da engenharia mineira, incluindo a SME, recebendo a medalha Cristiano Otoni.
Na mesma praça, destaca-se também uma estátua em homenagem a Tiradentes, mártir da Inconfidência Mineira e patrono da Polícia Militar. Um local que une inovação e tradição, técnica e bravura, e nos lembra das muitas formas de servir ao país — seja com projetos, seja com ideais.

Praça Desembargador Emygdio de Brito
Finalizamos nosso percurso pelas praças, passando pela Praça Desembargador Emygdio de Brito, nomeada em 1970 pelo então prefeito Luiz de Souza Lima em homenagem ao jurista que marcou sua época com atuação firme e dedicada à justiça mineira.

Um resumo de uma caminhada pelas praças
Em uma caminhada, percorremos símbolos de independência, inconfidência e república. Passamos pela França, onde uma baqueteria aquece os sentidos com aromas artesanais, e pela Itália, nas vitrines doces da Mole Antonielana, passando pelo calor de um cafezinho no Café Nice — tão mineiro quanto necessário para aquecer alma e conversa.
Entre pedras, histórias e monumentos, ouvimos o sussurro do tempo nas praças que nos ensinam, silenciosamente, que a cidade é feita de memória, passos e poesia. Belo Horizonte pulsa entre raízes e futuros — e cabe a nós continuar caminhando.
Como disse o homem que pisou na Lua, “um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade”. Hoje demos uma pequena caminhada pela capital, mas, ao mesmo tempo, uma grande travessia pela nossa história — regada a cultura, beleza e afeto.
Caminhar com propósito é redescobrir a cidade com outros olhos — atentos, curiosos e gratos. Cada praça visitada guarda um pouco da alma de Belo Horizonte. E que venham as próximas rotas, os próximos encontros e os muitos cafezinhos que ainda nos aguardam pelo caminho.