Rodrigo Paiva (*)

Os incêndios estão afetando todo o Brasil, e a região metropolitana de Belo Horizonte enfrenta um desafio adicional este ano: o fechamento do Aeroporto Carlos Prates, uma decisão tomada pelo prefeito “herdado” da capital.

No combate aos incêndios, é importante entender como o processo funciona. O Governo de Minas Gerais realiza uma licitação para contratar uma empresa agrícola especializada, que utiliza aviões para combater os focos de incêndio. O contrato envolve o pagamento tanto por horas de voo quanto por horas de solo. Ou seja, o governo paga enquanto as aeronaves estão à disposição, com a hora de voo sendo consideravelmente mais cara que a de solo. Cada aeronave tem capacidade para carregar entre 1.800 e 2.800 litros de água.

Por que o funcionamento do Aeroporto Carlos Prates faria diferença?

As aeronaves utilizadas para combater incêndios operam em voos baixos e diretos, sem precisar subir e seguir em cruzeiro como aviões comerciais. No Carlos Prates, chegavam a operar entre 3 e 5 aeronaves ao mesmo tempo. Elas decolavam rapidamente, voavam direto para o local do incêndio e, ao retornar, pousavam e reabasteciam com água sem sequer desligar os motores, decolando novamente logo em seguida. Isso era possível porque o Carlos Prates, por não ser controlado como o Aeroporto da Pampulha, não lidava com tráfego de jatos ou procedimentos por instrumentos.

No Aeroporto da Pampulha, o cenário é bem diferente. As aeronaves de combate a incêndio precisam entrar na fila de decolagem junto com aviões a jato que têm prioridade por voarem sob procedimentos por instrumentos. Elas são obrigadas a enviar planos de voo, solicitar autorização da torre de controle e ficam à mercê do tráfego intenso, que está sobrecarregado devido à alta demanda. O tempo de espera para decolar pode ultrapassar 40 minutos, afetando diretamente a eficiência do combate ao fogo.

Além disso, a distância entre uma decolagem e outra é tão grande que, em algumas ocasiões, uma aeronave decola 15 minutos após a anterior. Esse atraso compromete a eficácia, pois quando a segunda aeronave chega ao local, o fogo já retomou força. Normalmente, as aeronaves jogam água no mesmo foco de incêndio para extingui-lo de forma eficiente, mas com a demora, isso se torna impossível.

Outro problema ocorre no pouso. Muitas vezes, ao retornar para reabastecer, as aeronaves são instruídas a “rodar” no ar, aguardando autorização para pouso, devido ao tráfego intenso. Isso força os pilotos a desligarem os motores e seguir todo o procedimento novamente, o que gera mais atrasos.

Diante dessa situação, as operações têm sido tão dificultadas que as equipes chegaram a solicitar a reabertura de pistas em Conselheiro Lafaiete e até nas mineradoras da região.

O fechamento do Aeroporto Carlos Prates, que oferecia condições mais ágeis para as operações, está se mostrando um obstáculo grave no combate aos incêndios na região. A pergunta que fica é: quem vai arcar com as consequências dessa decisão?

(*) Engenheiro Civil, Mestre pelo Massachusetts Institute of Technology – MIT

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